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Laboratório de Nematologia

Apresentação

O laboratório de Nematologia do Departamento de Fitopatologia (DFP) da Universidade Federal de Lavras (UFLA) realiza a caracterização de espécies de fitonematoides em solos e órgãos vegetais auxiliando assim na determinação da causa de doenças vegetais causadas por esses patógenos de interesse dos produtores rurais. Também a presença de fitonematoides em órgãos vegetais interessa às empresas que movimentam tais produtos entre estados brasileiros, bem como por países diferentes pela importação e exportação.


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O que são nematoides?

Os nematoides são vermes microscópicos. Aqueles que parasitam plantas resultaram de um processo evolutivo desenvolvendo-se uma estrutura pontiaguda que introduzida na planta suga sua seiva, conteúdo celular ou mesmo altera toda sua fisiologia no local de parasitismo como acontece com os nematoides chamados de endoparasitas sedentários destacando-se os nematoide de galhas (Meloidogyne spp) e dos cistos (Heterodera spp e Globodera spp), dentre outros). Entretanto, são diversas as formas de colonização e multiplicação nos tecidos vegetais resultando em sintomas diversos como seca da parte aérea, descoloração entre nervuras de folhas, lesões nas raízes e folhas, galhas, isto é, engrossamento das raízes infectadas, etc. Alguns sintomas são bem característicos de determinadas espécies, mas outros podem ser quase imperceptíveis e podendo ser confundidos com doenças de outras causas como fúngicas, bacterianas e viróticas.

Os nematoides se adaptaram bem em solos e órgãos vegetais e assim, formaram um grupo chamado de fitonematoides. Como os fitonematoides usam as plantas como fonte de alimento e se reproduzem muito nos tecidos vegetais, principalmente nas raízes, concorrem assim, com a produção, reduzindo-a. Sua população no solo se eleva com a intensificação do plantio de culturas suscetíveis na mesma área. Também, o fato de atacarem, na maioria das culturas, as raízes dos vegetais tornam-se despercebidos, pois os produtores e consultores agrícolas têm a tendência de observar melhor os órgãos acima do solo como folhas, frutos, caules, etc. como possíveis locais dos patógenos causadores das doenças. Todavia, alguns patógenos de pequena contribuição para a redução da produção podem estar alojados nos órgãos aéreos das plantas, mas o principal contribuinte para tal pode estar nas raízes e em alta população, como os fitonematoides.
Por que conhecer os nematoides que estão na sua cultura ou no material de plantio?

Os fitonematoides têm população diversificada, envolvendo várias espécies, nos órgãos vegetais, principalmente nas raízes. Algumas delas podem estar presentes e em alta população na rizosfera sem causar, na planta, prejuízos econômicos, como acontece com o fitonematoide Helicotylenchus dihystera que não tem sido constatado nenhum prejuízo econômico em nenhuma cultura, apesar de estar sempre associado à rizosfera da maioria das plantas. Por isso, é necessário que se conheça os fitonematoides de importância econômica das culturas. Felizmente, não são muitas as espécies de fitonematoides de importância econômica em cada cultura no Brasil.

Então, conhecendo-se as espécies de fitonematoides em um campo de cultivo e a importância econômica deles para a cultivar plantada ajudará na definição da causa da doença, bem como na decisão sobre a escolha do método ou métodos de controle a aplicar na área. Por exemplo, os cultivares tem resistência específica a uma população de fitonematoides. Assim, a escolha do cultivar resistente será direcionada para a espécie que foi caracterizada como de importância econômica.

A caracterização das espécies de fitonematoides não auxilia só na definição da causa da doença e dos métodos de controle desses patógenos, mas também auxilia os viveristas e os órgãos de controle fitossanitário dos estados da federação na tarefa de evitar a disseminação desses patógenos para outras áreas de cultivo. Desta forma, os produtores de mudas precisam analisá-las quanto a presença de fitonematoides, principalmente daqueles de reconhecida capacidade de causar redução na produção da cultura antes de distribuí-las aos clientes (produtores). Os órgãos de controle fitossanitário tanto da esfera estadual, quanto federal, exigem que tais análises sejam feitas.


Amostragem de solo e raiz para constatação de fitonematoides

A preocupação dos órgãos de controle fitossanitário (estaduais e federais) com a sanidade das mudas principalmente com relação a incidência nelas, de fitonematoides decorre não só da possibilidade de disseminação do patógeno, mas também devido aos grandes prejuízos que o produtor irá ter com o plantio de um material infestado, isto é, baixa qualidade. Não são raros os casos de prejuízos elevados com o plantio de bulbilho de alho infestado por Ditylenchus dipsaci, como ocorrido em 2011 em São Gotardo, MG, tubérculos de batata infestado por Meloidogyne sp., mudas de café infectadas com Meloidogyne spp. Aliás, como a UFLA está localizada em uma região de exploração econômica da cafeicultura, deve-se ressaltar que o nematoide de galhas ocorre em 22% das lavouras cafeeiras do Sul de Minas (Castro et al., 2008) e que a espécie Meloidogyne paranaenses foi constata e publicada em revistas científicas brasileiras em 2004 em Piumhi, MG (Castro e Campos, 2004), bem como na Serra do Salitre, MG em 2003 (Castro et al., 2003). Já M. coffeicula foi encontrada em cafezal de Coromandel, região do Alto Paranaíba, MG (Castro et al., 2004). Ao que tudo indica, os métodos usados para evitar a disseminação de M. paranaensis, principalmente na região do Alto Paranaíba de Minas Gerais, se foram realmente empregados, não foram tão eficazes, já que esse nematoide já é encontrado em vários outros municípios daquela região. Essas foram as primeiras constatações de M. paranaensis nos cafezais do Sul de Minas e Alto Paranaíba, ambas regiões de Minas Gerais.

Embora os fitonematoides causem grandes prejuízos também nas culturas de ciclo curto, naquelas de ciclo longo, uma vez introduzidos, por exemplo, pelas mudas, não serão nunca mais erradicados durante a vida daquela plantação. No cafezal, por exemplo, o prejuízo acompanhará o produtor até a renovação do cafezal. No novo plantio deve-se optar por algum método de controle. Deve-se ressaltar que o uso de nematicida pode reduzir prejuízos causados por M. exigua, mas pouco eficaz para M. paranaensis, ambos patógenos do cafeeiro.

Em 2008, estimou-se que, no mundo, os fitonematoides causaram prejuízos na ordem de 98 bilhões de dólares (http://plpnemweb.ucdavis.edu/Nemaplex/Plntpara/damage.htm).

No trabalho de assistência aos produtores rurais, empresas e aos órgãos de controle fitossanitário executado pelo laboratório de Nematologia, existem dois momentos importantes: a amostragem e a análise dela no laboratório. As amostragens são realizadas pelo interessado no resultado da análise e que na maioria dos casos é feita pelo produtor rural, mas também pode ser realizada por agentes fitossanitários dos governos quando for de seus interesses. É um processo, então, que o laboratório não interfere, mas queremos orientar os seus executores. Observe bem que, a amostra representa um universo bem maior, daí exigir critérios estatísticos e comprovações práticas. Além da coleta criteriosa, o correto manuseio dela até o laboratório contribuirá para uma segura caracterização dos patógenos, tanto no solo quanto nos órgãos vegetais.


Auxílio ao Executor da Amostragem

Para auxiliar o executor da amostragem do material para análise de fitonematoide, eis alguns aspectos que devem ser lembrados ao iniciar o processo.

1) Qual é a melhor época para fazer a amostragem?
Em áreas já cultivadas, é preciso atentar para o ciclo da planta:
- cultura anual: a amostragem deve ser feita no final do ciclo da cultura. Neste período, há o pico populacional dos nematoides.
- cultura perene: recomenda-se fazer a amostragem em épocas de calor e chuva (verão).
A amostragem pode ser feita em qualquer época do ano, porém, quando feita no verão, obter-se-ão resultados mais próximos da realidade do campo. Isso porque, em épocas frias, os nematoides se encontram no solo sem vegetação em forma de ovo (e não existe nenhuma técnica de extração de ovos nesta condição) e com isso, a população será subestimada. Do solo, apenas conseguimos extrair nematoides a partir do segundo estádio juvenil de seu ciclo de vida.

2) Qual é o melhor local para fazer amostragem?
Para solo - recomenda-se coletar a amostra na rizosfera da planta, ou seja, onde estão crescendo as raízes. Para raízes - coletar as mais novas.

3) De que forma se deve realizar a amostragem?
Percorra a área em ziguezague.
Priorize coletas em locais com plantas com possíveis sintomas. Exemplos: plantas pequenas, amarelecidas, murchas, de menor produtividade sempre em reboleiras (ilha de sintomas).
No caso de reboleiras, colete as plantas da borda da área afetada.
O processo de coleta é distinto entre as culturas de ciclo anual e perene:
- cultura perene: coletam-se sub-amostras em 6 a 10 árvores, nos quatro quadrantes da projeção da copa. Em cada uma delas deverá conter 150 g de solo e 20 g de raiz, obtidas a 25-30 cm de profundidade. Fazer homogeneização e retirar uma amostra de 500 g de solo e 100 g de raízes novas, a qual será enviada ao laboratório de análise.
- cultura anual: coletam-se 20 sub-amostras de 65 cm³ de solo e 10 g de raiz, a 15-20 cm de profundidade. Após a homogeneização delas, retirar uma amostra de 500 g de solo e 80 g de raiz, que será enviada para análise.

4) Qual é o número de amostras a ser coletado?
O número de amostras a ser coletado estará em função do tamanho do campo amostrado:
- até 6 ha: 1 amostra
- 6 a 40 ha: 6 a 8 amostras
- Maior de 40 ha: 10 amostras

5) Quais são os cuidados a serem seguidos na amostragem?
- amostrar o campo quando estiver úmido (60% da capacidade de campo) evitando solos secos ou encharcados;
- colocar a amostra obtida sempre em sacos plásticos;
- proteger a amostra de temperaturas superiores a 38ºC durante a coleta no campo;
- manter a amostra em local com temperatura de 8 a 10ºC;
- enviar a amostra o mais rápido possível ao laboratório de análise, não ultrapassando 3 dias;
- identificar devidamente as amostras (nome, endereço, local da amostragem, cultura amostrada);
- não amostrar após aração e gradagem, bem como em terrenos sem hospedeiros por vários meses.

6) A portaria do IMA e as exigências sobre o método de amostragem em viveiros de café
A portaria nº 0863 do IMA - Instituto Mineiro de Agropecuária - estabelece que para todos os viveiros, a metodologia para a coleta das amostras de raízes das mudas de café para análise laboratorial, seguirá obrigatoriamente os seguintes passos:
a) a totalidade das mudas do viveiro é dividida em lotes de, no máximo, 200 mil mudas;
b) cada lote é subdividido em quatro parcelas de 50 mil mudas;
c) cada parcela é amostrada, individualmente, para análise de fitonematoides do gênero Meloidogyne;
d) em cada parcela é retirado um mínimo de 0,1% (zero vírgula um por cento) do total das mudas, nunca inferior a 30 (trinta) mudas, constituindo a amostra a ser analisada;
e) a coleta da amostra é realizada nos canteiros dentro dos seguintes critérios:
• a parcela que tiver mais de cinco canteiros terá os seus canteiros amostrados alternadamente;
• o canteiro a ser amostrado será dividido, em seu comprimento, em cinco setores;
• do setor central serão retiradas quatro mudas e dos demais setores serão retiradas duas mudas de cada;
• a parcela que tiver apenas um ou dois canteiros terá aumentada proporcionalmente a retirada do número de mudas de cada setor do canteiro, até atingir o mínimo de 0,1% (zero vírgula um por cento) das mudas, nunca inferior a trinta mudas.

Para maiores informações, acesse a página do IMA:
http://www.ima.mg.gov.br/portarias/doc_details/347-portaria-no-863

O produtor deve observar no seu estado a exigência sobre a realização de análise da presença de fitonematoide em mudas, tubérculos, bulbilhos etc. colocados a venda para plantio comercial, bem como para exportação (junto ao governo federal).


No laboratório de análise

Ao receber a amostra, o laboratório de Nematologia da UFLA, acondiciona-a a 8-10ºC e o seu processamento será realizado em até 5 dias, a partir do seu recebimento, incluindo a extração, o reconhecimento das espécies de fitonematoides e a quantidade de cada uma delas expressa em 100 cm³ de solo ou por grama de órgão vegetal. O laudo emitido só é válido para aquela amostra trabalhada no laboratório e o interessado em seu resultado pode retirá-lo no próprio laboratório, recebê-lo por fax, e-mail ou mesmo ser disponibilizado na internet, o que pode ser decidido pelo próprio interessado no momento da entrega do material coletado no laboratório de Nematologia da UFLA.

Atualmente o laboratório conta com um laboratorista executor (Tarlei Luis de Paula), outro com a responsabilidade técnica (Cléber Maximiniano). Como responsável, pelo setor junto ao Departamento de Fitopatologia da UFLA encontra-se, no momento, o prof. Vicente Paulo Campos. O custo da amostra é de R$40,00 que será recolhido junto a Fundação de Desenvolvimento Científico e Cultural (FUNDECC).


Referências Bibliográficas


Castro, J.M.C.; Campos, V.P.; Pozza, E.A.; Naves, R.L.; Andrade Junior, V.C.; Dutra, M.R.; Coimbra, J.L.; Maximiniano, C. e Silva, J.R.C., 2008. Levantamento de fitonematoides em cafezais do sul de Minas Gerais. Nematologia Brasileira. 32, 56-64.
Castro, J.M.C.; Campos, V.P. 2004. Detecção de Meloidogyne paranaensis em cafeeiros do Sul de Minas. Summa Phytopathologica. 30, 507.
Castro, J.M.C.; Campos, V.P.; Dutra, M.R. 2004. Ocorrência de Meloidogyne coffeicola em cafeeiros do município de Coromandel, Região do Alto Paranaíba em Minas Gerais. Fitopatologia Brasileira. 29, 227.
Castro, J.M.C.; Campos, V.P.; Naves, R.L. 2003. Ocorrência de Meloidogyne paranaensis em cafeeiros na região do Alto Paranaíba em Minas Gerais. Fitopatologia Brasileira. 28: 565.

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